segunda-feira, 27 de junho de 2011

PRELÚDIO 21: MATURIDADE DE UM MOVIMENTO QUE SE EXPRESSA NA CORRESPONDÊNCIA ENTRE A MÚSICA E A PALAVRA QUE SE DIZ SOBRE A MÚSICA.

PRELÚDIO 21: MATURIDADE DE UM MOVIMENTO QUE SE EXPRESSA NA CORRESPONDÊNCIA ENTRE A MÚSICA E A PALAVRA QUE SE DIZ SOBRE A MÚSICA.

(Breve comentário sobre o concerto do Prelúdio 21 ocorrido em 25 de Junho de 2011 no Centro Cultural Justiça Federal – RJ)
José Eduardo Costa Silva

Certamente os compositores do Prelúdio 21 sabem a correspondência entre música e palavra. Por isso, ao anunciarem suas obras, evocam invariavelmente o título que melhor nomeia o universo de sentidos por elas aberto. A designação geral é música do presente. Entenda-se, música que se impõe como o pensamento amplo que suporta e sustenta as palavras delimitadas no tempo passageiro.
One frozen moment por Caio Senna: os tempos nos quais juntos habitamos se concentram na particularidade da obra; algo como um retrato sonoro, em que a realidade da vida emocional se mostra emoldurada pela totalidade congelada da vida cotidiana. Cria-se um espaço convergente, diálogo entre obras - Convergências! Como parece querer Neder Nassaro, a música se instaura no palco como um buraco negro que suga inexoravelmente o mundo circundante. Daquela matéria sugada desprendem porções de sutil poeira brilhante.
Um tal efeito estava presente na abertura do concerto; Inserções de J. Orlando Alves. Em torno da vagueza de um trítono convertido em ideia, o pensamento se permite coautor de uma obra que solicita frases e gestos retóricos. Diga-se de passagem, solicitação que Sara Cohen (piano) e Paulo Passos (clarineta e saxofone) atendem com maestria. A qualidade dos intérpretes também reluz ante o desafio trazido por Reflexos de Alexandre Schubert: o movimento subtendido nos abstratos espelhamentos se corporifica...unidade entre música e corpo.
Aforismos II de Marcos Lucas – belíssima e instigante. Música que traz o enigma de um aforismo. Ao alcançarmos o terceiro movimento, abstidos de qualquer pretensão de encontrar imagens para a música, não podemos mais saber se a poesia transbordada virou música ou se, anteriormente, a música estabeleceu o terreno para o dizer livre da poesia. E a música flui, lembrando o mais recôndito sentido de jazz.
Ice. Ao explicar o sentido da obra, o compositor Sérgio Roberto de Oliveira permite-nos recolocar o debate sobre um dos mais combatidos termos da estética, qual seja: intencionalidade. Afinal, até que ponto as intenções de um compositor maduro podem efetivamente se converter em obra? A intenção do compositor foi enunciada: “quebrar o gelo” de um encontro de culturas – de um olá não respondido. Para tanto um plano. A propósito, parece que as ideias mais simples são as mais bem sucedidas: os afetos capazes de “quebrar o gelo” aparecem e transitam paulatinamente entre as estruturas musicais variadas – um crescente de afetividade – uma obra que se desenvolve por variação de afetos.